GREVE NO ATUAL CENÁRIO POLÍTICO E SINDICAL
Conforme descrevem os
dicionários, o conceito de greve traz consigo a palavra interrupção. Ou seja, é
uma suspensão voluntária dos serviços prestados com o intuito de manifestar uma
insatisfação acerca de uma condição julgada negativa por quem protesta. Sem
embargo do conceito, os movimentos grevistas nos últimos anos têm colecionado
perdas em razão da sistemática injunção do Capital aliado aos Governos, e ambos
movimentando a Justiça, os quais arregimentam forças para oprimir aquele que se
insere no movimento grevista, ameaçando-o com perda de gratificações,
avaliações periódicas negativas, cortes de ponto, compensação hora a hora e
toda a sorte de assédio psicológico e funcional já fartamente relatados na
literatura específica. Malgrado a greve seja um direito assegurado pela Carta
Magna, o seu exercício jamais fora praticado de forma pacífica – e nem será –
uma vez que o objetivo central do movimento é incomodar pela ausência e
destacar a importância da atividade suspensa e dos seus agentes.
Esse quadro de violência a um
direito constitucional jamais ocorreria de forma tão célere não fosse a efetiva
participação dos sindicatos e centrais sindicais na negociação coletiva lesiva
aos direitos dos trabalhadores perante governos e empresas. A ascensão da
esquerda ao poder se constituiu inicialmente numa onda de esperança no reforço
das políticas e instituições públicas. Entretanto o que se vê é o velho projeto
liberal de entregar o Estado ao mercado. Jamais houvera tamanha decepção!
Movimentos de esquerda lapidados nos embates sociais e compostos por
trabalhadores continuaram justamente trabalhando pelos privilégios dos
detentores do poder econômico. Estando no poder, a esquerda precisou deixar
encarregados nos postos estratégicos do movimento sindical, o que responde pela
implementação das políticas anti-greve e pelas ações de combate mornas quase
sem resultados. Para não serem acusados de traidores dos trabalhadores os
sindicatos aliados aos governos disparam uma greve, entretanto discursam de forma
moderada, desviam os ataques aos patrões, não mobilizam os trabalhadores,
muitas vezes, ao contrário, desmobilizam e mesmo diante de decisões coletivas
em assembleias pelo embate direto ao governo tratam de aliviar o peso das
pedras lançadas, alterando datas de assembleias, calendários de mobilização,
inviabilizando a participação da base nas discussões, viagens, reuniões
ampliadas, e uma série de outras medidas.
Nesse contexto nascem movimentos
alternativos, os quais se classificam como ‘verdadeira esquerda’, por possuírem
ações voltadas de forma contundente para os interesses do trabalhador, sem
mescla a interesses patronais. Há um exemplo inconteste dessa mescla patronal
nos movimentos sociais: os dirigentes sindicais subordinados ao poder sempre
trarão assuntos que provoquem dissidências entre a categoria, para que ela se
desgaste por si só, além de colocarem em votação assuntos que não pertinem ao
movimento grevista, mas tão somente aos patrões, como o estabelecimento de
serviços essenciais. Ora, os mestres da greve sabem perfeitamente que se deve
deflagrar uma greve – suspensão total dos serviços, interrupção de atendimentos
– para provocar tensão de um lado; do outro, os interessados que se movimentem
no estabelecimento de limites ao exercício da greve. É dessa tensão que ocorre
a lapidação do direito e o acesso ao objetivo colimado. O que aconteceria se
nesse mecanismo fosse inserido um elemento do patronato no lado dos
trabalhadores? É nesse ponto que entram os movimentos apelidados de ‘radicais’
– pecha, na maioria das vezes, difamatória – os quais buscam defender, às vezes
de forma passional, o direito dos trabalhadores. Esses movimentos estão
crescendo, como uma gestação de uma nova ‘esquerda’. Terá, entretanto, outro
nome, porque o que está nascendo é algo que vai renovar o cenário político
brasileiro.
André
Luís Rodrigues – Servidor do TRT 5ª Região, integrante do Coletivo Renova
Sindjufe
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