segunda-feira, 7 de novembro de 2011


GREVE NO ATUAL CENÁRIO POLÍTICO E SINDICAL

Conforme descrevem os dicionários, o conceito de greve traz consigo a palavra interrupção. Ou seja, é uma suspensão voluntária dos serviços prestados com o intuito de manifestar uma insatisfação acerca de uma condição julgada negativa por quem protesta. Sem embargo do conceito, os movimentos grevistas nos últimos anos têm colecionado perdas em razão da sistemática injunção do Capital aliado aos Governos, e ambos movimentando a Justiça, os quais arregimentam forças para oprimir aquele que se insere no movimento grevista, ameaçando-o com perda de gratificações, avaliações periódicas negativas, cortes de ponto, compensação hora a hora e toda a sorte de assédio psicológico e funcional já fartamente relatados na literatura específica. Malgrado a greve seja um direito assegurado pela Carta Magna, o seu exercício jamais fora praticado de forma pacífica – e nem será – uma vez que o objetivo central do movimento é incomodar pela ausência e destacar a importância da atividade suspensa e dos seus agentes.
Esse quadro de violência a um direito constitucional jamais ocorreria de forma tão célere não fosse a efetiva participação dos sindicatos e centrais sindicais na negociação coletiva lesiva aos direitos dos trabalhadores perante governos e empresas. A ascensão da esquerda ao poder se constituiu inicialmente numa onda de esperança no reforço das políticas e instituições públicas. Entretanto o que se vê é o velho projeto liberal de entregar o Estado ao mercado. Jamais houvera tamanha decepção! Movimentos de esquerda lapidados nos embates sociais e compostos por trabalhadores continuaram justamente trabalhando pelos privilégios dos detentores do poder econômico. Estando no poder, a esquerda precisou deixar encarregados nos postos estratégicos do movimento sindical, o que responde pela implementação das políticas anti-greve e pelas ações de combate mornas quase sem resultados. Para não serem acusados de traidores dos trabalhadores os sindicatos aliados aos governos disparam uma greve, entretanto discursam de forma moderada, desviam os ataques aos patrões, não mobilizam os trabalhadores, muitas vezes, ao contrário, desmobilizam e mesmo diante de decisões coletivas em assembleias pelo embate direto ao governo tratam de aliviar o peso das pedras lançadas, alterando datas de assembleias, calendários de mobilização, inviabilizando a participação da base nas discussões, viagens, reuniões ampliadas, e uma série de outras medidas.
Nesse contexto nascem movimentos alternativos, os quais se classificam como ‘verdadeira esquerda’, por possuírem ações voltadas de forma contundente para os interesses do trabalhador, sem mescla a interesses patronais. Há um exemplo inconteste dessa mescla patronal nos movimentos sociais: os dirigentes sindicais subordinados ao poder sempre trarão assuntos que provoquem dissidências entre a categoria, para que ela se desgaste por si só, além de colocarem em votação assuntos que não pertinem ao movimento grevista, mas tão somente aos patrões, como o estabelecimento de serviços essenciais. Ora, os mestres da greve sabem perfeitamente que se deve deflagrar uma greve – suspensão total dos serviços, interrupção de atendimentos – para provocar tensão de um lado; do outro, os interessados que se movimentem no estabelecimento de limites ao exercício da greve. É dessa tensão que ocorre a lapidação do direito e o acesso ao objetivo colimado. O que aconteceria se nesse mecanismo fosse inserido um elemento do patronato no lado dos trabalhadores? É nesse ponto que entram os movimentos apelidados de ‘radicais’ – pecha, na maioria das vezes, difamatória – os quais buscam defender, às vezes de forma passional, o direito dos trabalhadores. Esses movimentos estão crescendo, como uma gestação de uma nova ‘esquerda’. Terá, entretanto, outro nome, porque o que está nascendo é algo que vai renovar o cenário político brasileiro.

André Luís Rodrigues – Servidor do TRT 5ª Região, integrante do Coletivo Renova Sindjufe 

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